Cada dia da semana a cloaca divina lança o reciclável ovo da manhã
abrindo margem para a refeição sonolenta.
Cada dia da semana
a família perturba a superfície da infância
e cada cão cada gato cada cisne
canta com os gestos
triviais de um desconcerto -
velho conhecido.
Se somos ou se sabemos
não passa de
uma
meia questão.
Tribos cinéfilas, refeições
sincréticas
o trigo em um
o iôiô de um gozo
vínculos de doença
sirene:
exercemos a expiação
durante o breve alívio
da ducha.
Vida como ser marginal desse
perecível instrumento de calor;
infinita espada
córrego despreendedor
imensa
fatia daquilo que esperamos sem nos darmos conta
sorriso
impossível por invísivel
ser, presente e
alvo, óvulo
das sete pernas, cada qual alimentando-se
dos seus cíclicos frutos
frágeis como Aquiles.
Prisma do encontro
prisma do profano
prisma e culpa
insaciável
reincidente
pequena mentira que arqueia
a clara língua solar.
Arquivo natural, cristal inestimável e sonoro
dos antigos nomes
sem qualquer origem
apenas
inspiração.
E expiração.
Com licença poética - Adelia Prado
Há 9 anos