terça-feira, 9 de junho de 2009

Placebo

Inquebrantável como a feiúra

inquebrantável
como as lendas de uma cidade
onde não há carros
onde não há postes

em trevas

é a sede
é o espaço
o silêncio necessário

desse lodo
nos ralos

o escoar infantil da urina
que explora a rua
pequena

o escudo
escuro
de um quieto coração.

As vísceras quentes
são palavras inteiras
conquanto
bastardas
perdidas

como um vestido pelo avesso
um livro sem os verbos
o enigma
da tarde, que espera
mesmo sem jamais querer saber
ou chegar.

Sólido
e carnal
bosque noturno e imenso
eternamente aguardando uma matilha
filha do vento
e quiçá também aquela semente
o verde brilho
que não desejou
ou não sonhou
outrora.

Esmeralda! teus pensamentos minerais
tangem as garras
do travesseiro apertado
contra as têmporas, contra
os vícios

o medo

puro

que não cabe
por não ter origem -
porém
nada o exclui
de existir.

Rarefeito ar gelado
raro efeito da solidão
espinhos residem embotados
e o cacto
floresce em tons
impressionantes e despreocupados.

Entretanto
faz-se mister lembrar
da fome
lembrar do osso que sobra
após a refeição farta
e que queda abaixo da cadeira
servindo ainda
como esperança
como seiva
como instrumento.
O estômago como único sexo. ---


O oco atrás da gargalhada
o incerto que perfaz o vivo
o oráculo que acalma a fera
o corvo que finge ignorar a ceia
o morto que espera soprar suas velas mesmo imaginando

a putrefação

o funil desesperado e vital
do poema

áspero lábio do baldio

peregrino
arquiteto
sereno

compondo os tijolos
elaborando a beleza
na medida que sabe que apesar disso
o mármore é tão frio

e o novo país onde habita
carece de hino, bandeira e inventores.

Descansaria, apenas, a pastilha entre os dentes
e a língua, íntegra, mas sem previsão?

Ou resolverá a rocha seu empasse com o vermelho
e tenra
permitirá a raiz
madura e elementar
atualizar-se diante do macio?

Apenas que não se faça
da verdura
uma árvore nua
apesar da sua
hermética
carapaça em metal...

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