terça-feira, 6 de outubro de 2009

Sala de espera

A sala é pequena e as cadeiras desconfortáveis, a televisão transmite notícias com interferência e cinismo, o reinado das revistas de alguns anos atrás ainda não terminou: lentamente se dissolve no café frio o calado açúcar da espera. Uma pequena janela grita pedaços de sol que se espalham como cacos de vidro partido pela noite. O chão está limpo e nesse espelho eu me enxergo vestido como sempre, penteado como sempre, olhos abertos como sempre, estático como sempre. Sonhos presentes como sempre - lustrada parte da mobília. Escuto chuva lá fora, escuto chuva aqui dentro: a natureza é uma rádio puramente comercial. Na pequena copa ao meu lado há comida espalhada no balcão, no bureau em minha frente um protótipo de andróide, no canto dos meus olhos a verdade que não entendo. No advento de meu nome, estalo os dedos, respiro o frio, respeito os ausentes, vago até a branca parede do corredor. Sigo austero, sigo calado, sigo meio morto, meio ingrato, meio destemido, meio aço, meio água-viva... todo um rolo-compressor. No novelo de lã dos meus dedos entusiasmados deposito inteiramente as vontades daquelas horas patéticas, dos resquícios das eras, das magnitudes do vácuo, e galgo com a angústia do leopardo, velho e faminto, no momento em que encosto, no momento em que me comunico com o calor pesado da maçaneta
de repente, o filme pula para os créditos e as cabeças confusas projetam cordilheiras engraçadas na tela.

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