quinta-feira, 23 de abril de 2009

Do peso que a luz nos traz

são seis e pouco da matina.
estou de preto.
dirijo para onde todos os
carros
devem ir.
nada para o café da manhã
um cigarro e dois
daqueles comprimidos
que costumam me
fazer feliz.
há a chuva no solo
caída em outras sessões
e o sol no céu
novo
colhe insetos extásicos assim
como a luminária que dorme
bem acima de
mim.
sinto a luz pesar em minha camiseta.
o rádio fala Caetano
e às vezes idiomas os quais
conheço mas que não
compartilham
minha maternidade.
na intermitente linha
mediana
onde mancam os passantes
piétons sem definição
tento imaginar meus olhos
minha boca meu
umbigo meu sexo em
cada redentor
da nublada
travessia.
mas no reflexo vejo apenas
aros em plásticos
nariz embaixo, e
o bigode
pendendo a frente
de qualquer completa
satisfação.
onde
contrairei
minha calada
residência?
que escada para elevar-me além
do fosco teto
sob o qual
expectoro ansiedades
e frustrações?
o aguardo, como a doença, consome-nos
sem vermos.
apenas imaginamos
a sua tóxica fumaça, suas
magras
garras
a nos alcançar
galgando o degrau
e rasgando com um sorriso as
empoeiradas
cortinas do palco.
transito longamente
e não sem severidade
na minha estéril façanha
cotidiana.
inalo a brisa do mangue
o espirro da bela
pobreza.
o que fazer senão acelerar
possuir
tardar
ao se dar conta de que o mundo
finge
que não é o mundo que
finge
e ao ouvir da esfinge
que o fingidor
na verdade
é você?

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