terça-feira, 5 de maio de 2009

Não consigo escrever

não consigo escrever
como o solo não evita o raio
a vida não percebe a lápide
e o caçador não nota que alvejar a presa
é apenas
um dos começos de uma história.

não consigo escrever
porque não me prescrevo talento
porque o arcoíris passou de deusa
para fenômeno para bandeira para pandemia
porque tudo que se fala tudo que se cheira tudo que se excreta
tudo que se sente no orgasmo de olhos abertos e boca fechada
não está repleto
não está inteiro
como pensaram os roteiristas.

apenas repito
que não consigo escrever
como se repetem minhas células
minhas cédulas minha crédulas digitais
como se deduzem fórmulas a partir de genitores de bigode
para findar em resultados
infinitamente redundantes
gerações que ora se barbeiam
ora não
de suas intenções.

não consigo escrever
pois não há um assunto
não há uma capacidade uma potência ou sequer o tempo
a estação propícia
uma arma que dispare
através das brancas páginas que residem sob minhas pálpebras
e revele enfim
que em nada mais existe um sentido
exceto nesses cinco ou seis minutos
que me restam para amar
ou para dormir.

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