Vejo um caubói que sobe o morro; secos. O seu cavalo trota, patas secas pingam nota após nota. O dia é pequeno, o mundo quente, a estrada íngreme, não há previsão de alívio todo o amarelo ali sufoca.
Vejo a cauda do rato que escapa, as unhas do rato que escapa, o grito do rato que escapa;
vejo a flor que nasce e é cortada, a flor que nasce mutilada, a flor que rasga e que fronda pelo avesso;
vejo o rio, teu rio meu rio, profusão de água: o rio onde se nada, onde não se é nada.
Nada.
E vejo a morte,
a morte em sua banheira, a morte num quadro de giz, a morte no gesto da embalagem, no estigma do berço, na gargalhada estranha no distante corredor; no clima que sufoca, no amarelo íngreme que é toda a previsão de alívio, na estrada quente, no mundo que é pequeno como o dia.
E é dia. Seco.
Nada.
Dia.
O caubói apressa o passo. O cavalo cansado transpira a espuma do mar. O céu é vasto, depois da aba do chapéu. O morro acaba. A brisa aponta para a descida.
Arfa.
Cospe.
Ri:
não foi
desta vez.
Com licença poética - Adelia Prado
Há 9 anos
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