domingo, 8 de novembro de 2009

Sinfonia oca: Δ

Vejo um caubói que sobe o morro; secos. O seu cavalo trota, patas secas pingam nota após nota. O dia é pequeno, o mundo quente, a estrada íngreme, não há previsão de alívio todo o amarelo ali sufoca.

Vejo a cauda do rato que escapa, as unhas do rato que escapa, o grito do rato que escapa;

vejo a flor que nasce e é cortada, a flor que nasce mutilada, a flor que rasga e que fronda pelo avesso;

vejo o rio, teu rio meu rio, profusão de água: o rio onde se nada, onde não se é nada.

Nada.

E vejo a morte,
a morte em sua banheira, a morte num quadro de giz, a morte no gesto da embalagem, no estigma do berço, na gargalhada estranha no distante corredor; no clima que sufoca, no amarelo íngreme que é toda a previsão de alívio, na estrada quente, no mundo que é pequeno como o dia.

E é dia. Seco.
Nada.

Dia.

O caubói apressa o passo. O cavalo cansado transpira a espuma do mar. O céu é vasto, depois da aba do chapéu. O morro acaba. A brisa aponta para a descida.

Arfa.
Cospe.

Ri:

não foi
desta vez.

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